por Martina Gomes
Figura: Mnemosyne – deusa da memória
Um breve resumo a respeito do texto lido para incrementar nossa pesquisa no nosso território, na verdade, um texto introdutório, que possibilitará uma certa base para o início de nossa caminhada pelo misterioso e envolvente universo da “memória”. A pesquisa e as reflexões apresentadas no texto são sobre a memória familiar, política, do trabalho e mais todas aquelas que formam a substância social da memória.
A história que é ensinada hoje em dia nas escolas não trata de um passado recente e é contada muitas vezes de uma forma linear e macro, deixando para trás muitos detalhes. As crônicas, na idade média, surgem como um contraponto, como uma forma de registro da memória oral e são tidas como um “gênero literário menor” por não apresentarem uma certa continuidade. Porém atualmente a crônica e a tradição oral estão sendo valorizadas por serem fundamentais na construção da história do quotidiano.
A memória oral é multiplicidade, ela abre espaço para a história da população excluída da memória institucional (negro, velho, índio) e para os mais diferentes pontos de vista que muitas vezes divergem entre si mesmos. A memória exerce um papel importantíssimo, pois através dela legitimamos e construímos identidades, por isto é importante ter ciência de que esta memória é sempre formada e interpretada no interior de uma classe e que ela sempre vem acompanhada de “representações ideológicas”.
Ao longo do texto a autora fala das mais diversas formas como esta memória oral, esta memória coletiva se manifesta na nossa sociedade e como a família burguesa ao longo do tempo vem sofrendo uma diminuição na sua memória pública, através do “capitalismo anônimo”.
Algumas vezes a memória pode vir a servir a manutenção de classe específica, como existem laços estreitos entre memória e ideologia, esta classe que interpreta ideologicamente o fato ocorrido constrói a partir das suas concepções, dos seus sentimentos e dos seus valores uma memória coletiva que irá se propagar a todas a outras classes. A escola, e as instituições são tão impregnadas dos mais diversos estereótipos da classe dominante, que mesmo quando a classe excluída escreve sua história a marca da outra classe se faz presente.
Em muitos momentos no texto a autora fala da “memória coletiva ou de classes”, e enfatiza a classe dominante que fragmenta o mundo e a experiência em prol do seu sistema econômico e que vem aos poucos se isolando cada vez mais do mundo externo.
A valorização dos nossos objetos pessoais dá sentido a nossa identidade e fala muito do que somos, segundo a autora quanto mais utilidade no nosso quotidiano este objeto tiver mais ele nos será significativo. Estes objetos tão importantes também denominados de “objetos bibliográficos” além de terem representações de momentos que vivemos eles se incorporam em nossas vidas e envelhecem conosco e nos dão uma sensação de continuidade. Segundo a autora se um objeto não é bibliográfico ele é de signo de status, a foto pertencendo a segunda categorização, pode ser descrita como algo que representa superioridade, distinção e até competição dependendo de quem for a foto. A classe burguesa é atingida pela impossibilidade de refugia-se em objetos bibliográficos devido ao sistema de trocas em que se propõem viver, onde a maioria dos objetos vira facilmente descartável.
A memória tem certa liberdade no que diz respeito à escolha das lembranças de acontecimentos, que não são escolhidos arbitrariamente, mas porque se “relacionam através de índices comuns”. Nossa memória está sempre ligada a nossa identidade e as nossas escolhas de vida, é um “passado aberto” e muitas vezes contraditório. O que não é dito, o que não é lembrado é tão importante quanto o que é relembrado facilmente, pois são nesses esquecimentos que se escondem as maiores tensões da história.
Santo Agostinho já dizia que a memória é o “ventre da alma”, e Bergson vem nos dizer que a memória é a alma da própria alma, “a conservação do espírito pelo espírito”, a partir daí é possível constatar a importância vital que tem a memória para todo o ser humano, pois ela é que faz o nosso vínculo com o presente com o passado e interfere no nosso futuro. A memória é como um devir, e a intuição é essencial para que se possa captar o maior número de informações desta história oral.
Dona Cristina Perdeu a Memória
Produção: Casa de Cinema de Porto Alegre - (35 mm, 13 min, cor, 2002)
Dona Cristina é uma senhora solitária que vive em um asilo e que todos os dias pela manhã dirige-se até a cerca que separa o asilo da casa da casa do Antônio e começa a martelar. Antônio é um menino de oito anos que mora na casa vizinha ao asilo e que conversa diariamente com Dona Cristina, cada dia ela lhe conta uma história diferente sobre o mesmo fato da sua vida. A relação dos dois é essencial para a memória de Dona Cristina sobreviver porque o menino é capaz de ouvir, imaginar, sonhar e criar com ela novas histórias, nunca permitindo que o passado da senhora fique num vazio.
A exibição do curta serve de ilustração para o assunto discutido a partir do texto da Ecléa Bossi, “A substância social da Memória”, ilustrando como se faz fundamental para a continuação de uma vida a preservação da memória. Sem ela não existe passado, presente e nem futuro.
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
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